Melánie Duarte


Os farmacêuticos comunitários são profissionais de saúde verdadeiramente multifacetados, graças às suas competências técnicas, científicas e também sociais. Até há pouco tempo, os meus dias passavam pelo desempenho de uma multiplicidade de tarefas, começando pela dispensa de medicamentos, dispositivos médicos e produtos de saúde e bem-estar e respetiva validação da prescrição e reconciliação farmacêutica.

O aconselhamento farmacêutico, a promoção do uso responsável do medicamento, a identificação, resolução e prevenção de Problemas Relacionados com Medicamentos (PRM´s) e a comunicação com outros profissionais de saúde eram outras das minhas atividades diárias, para além da prestação de vários serviços farmacêuticos. Estes incluíam a administração de vacinas e medicamentos injetáveis, a realização de testes e parâmetros biométricos, bioquímicos e fisiológicos e respetiva avaliação do significado clínico dos resultados e da necessidade de intervenções subsequentes, a revisão da medicação, o acompanhamento farmacoterapêutico e a preparação individualizada da medicação, entre outros. Uma vez que era responsável pela gestão de algumas marcas de dermocosmética, ainda desempenhava funções a nível da gestão de stocks e compras, do desenvolvimento de estratégias de marketing e do planeamento de formações. No entanto, ao longo do tempo, fui-me especializando numa área que me apaixona e que foi preenchendo cada vez mais os meus dias, a dos medicamentos manipulados.

Atualmente, a minha prática diária passa quase exclusivamente pela preparação de medicamentos manipulados e pela gestão do laboratório, sendo esta uma área de intervenção que permite ao farmacêutico comunitário responder às necessidades específicas de utentes para quem não existe uma resposta adequada da indústria farmacêutica. A sua preparação é um processo complexo, o único em que a farmácia assume a responsabilidade em todas as etapas e em todo o circuito do medicamento, desde a aquisição de matérias-primas até à dispensa informada do manipulado. É através da preparação de medicamentos personalizados, prescritos a utentes que de outra forma não encontrariam a solução para o seu problema, que me sinto verdadeiramente realizada enquanto farmacêutica. Desta forma, é possível cobrir lacunas terapêuticas, ajustar doses, alterar formas farmacêuticas, otimizar tratamentos através da associação de princípios ativos, entre outras possibilidades, fazendo assim com que seja o medicamento a adaptar-se ao utente e não o contrário!

Para além da intensa atividade no laboratório da farmácia, através da orientação de estágios curriculares e da lecionação de aulas laboratoriais de Farmácia Galénica na Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, tenho ainda a sorte de poder partilhar um pouco da minha paixão e da minha experiência com futuros farmacêuticos. Como é fácil de perceber, o farmacêutico comunitário tem a oportunidade de intervir de variadas formas, com o objetivo final de acrescentar valor aos cuidados de saúde prestados aos seus utentes!